sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Formação: Antibiótico ou Vitamina

Por vezes, quando os gestores de recursos humanos reflectem sobre as medidas a tomar para melhorar as competências das suas equipas, pensam nomeadamente em facultar-lhes o “antibiótico formação”, quer através de um MBA, um mestrado, uma pós-graduação ou uma formação mais customizada à realidade organizacional do cliente ou então seguindo uma vertente mais personalizada, utilizando um antibiótico mais potente “o coaching”.
Não temos a menor dúvida que tanto o “antibiótico formação” como o “antibiótico coaching” podem ajudar a melhorar o estado de “saúde do paciente”, leia-se, que lhe faculte um maior grau de auto-consciência, novos conhecimentos e que o ajude a dar os primeiros passos na realização de tarefas/acções novas no seu repertório comportamental.
O principal erro na análise destas situações, na nossa opinião, é acreditar que são medicamentos que ao serem tomados em toma única ou mesmo em tomas de curta duração podem erradicar não só os sintomas mas também as causas que padecem os “pacientes”.
Mormente esta decisão está assente muitas vezes, naquilo a que os psicólogos sociais apelidam do erro fundamental de atribuição, o qual significa que atribuímos a responsabilidade das situações à personalidade do individuo e desvalorizamos a importância do contexto no comportamento do individuo.
Significa que o gestor define que existe um “paciente” e, que esse “paciente” precisa de uma intervenção através do “antibiótico formação” ou “antibiótico coaching”. A questão é que esse possível paciente ou pacientes, estão inseridos num contexto, numa equipa, com as quais interagem e, através das quais se interinfluenciam.
Isto quererá dizer que toda a equipa precisará de “antibióticos formação” ou de “antibióticos coaching”?
Acreditamos que em vez de olharmos para a formação como um antibiótico devemos olhar para ela como uma vitamina.
O gestor de Recursos humanos deverá ser capaz de ele próprio ser capaz de realizar um bom diagnóstico ou então de se aconselhar com especialistas que saibam realizar um diagnóstico adequado da situação e de saber escolher quais as soluções certas para a resolver.
Não realizando um bom diagnóstico, utilizando a formação como um medicamento e não como uma vitamina, não tarda que quando lhe apresentado como um medicamento numa próxima vez que lhe seja aconselhado, o GRH diga que esse medicamento é vendido como uma panaceia para todos os males, mas que pela sua experiência fica aquém do esperado.
Assim, os consultores de formação quando apresentarem as suas soluções aos problemas que o cliente retrata deverão apresentar-lhe “vitaminas” que permitirão melhorar a médio-longo prazo a qualidade de vida das equipas e das organizações onde elas estão inseridas. E não prometer-lhe a formação como um “medicamento”, como uma panaceia, que permitirá melhorar substancialmente os resultados a curto prazo.
Acredito verdadeiramente que a formação e/ou coaching possa ser útil ao desenvolvimento das competências individuais e das equipas. Mas não como sendo vista e utilizada como um medicamento, como um antibiótico e/ou aspirina com uma acção rápida e produzindo resultados imediatos, mas sim como um cocktail de vitaminas que permitirá a médio-longo prazo melhorar o sistema imunitário do individuo e da própria organização tornando-a numa empresa mais saudável. Sendo mais saudável será mais positiva e criativa e consequentemente mais inovadora e obviamente obterá melhores resultados.

Nós acreditamos nisso e por isso vendemos vitaminas e você, o que vende?

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Acreditar

A pior coisa que pode acontecer às palavras é a sua banalização – sendo uma palavra, por vezes, uma evocação de um conceito, de uma ideia, de um desejo – se ela se torna num lugar-comum perde a força e o seu poder de influência, de acção e também algum do seu mistério e magia.
Nos tempos que correm, em que a informação percorre a sociedade à velocidade da luz, tudo é dissecado e sintetizado e devolvido ao consumidor numa bonita embalagem fast food. Como não temos tempo para saborear essa palavra, esse conceito, essa ideia, esse potencial de acção que contém, perpassa de forma volátil e mais não faz do que deixar um breve sabor no nosso paladar.
A palavra mais servida no menu informativo, hoje em dia, é a palavra acreditar.
Em que consiste esta palavra? O que ela nos acrescenta? O que pretendemos com ela? O que ela evoca em nós? O que podemos fazer para que ela transporte magia e superação? E não apenas um comportamento comum? –“Temos que acreditar” diz a vox populi. É verdade, é uma verdade La Palisse. Mas como fazer dessa palavra mais do que uma simples palavra? Como dar vida à palavra e ela não seja apenas mais uma palavra? Como dar poesia à palavra e que ela nos inspire e nos faça sonhar?
É aqui que entram alguns líderes, tal e qual profetas, que nalguns momentos conseguem transformar palavras banais em pedras preciosas, inspirando com uma visão transmitida cheia de convicção.
É isto que falta, para que as palavras não se banalizem, que elas não sejam despojadas de alma, de vontade indómita e de sonho.
Há assim palavras que deveriam ser usadas apenas em certos menus, para poderem ser degustadas em toda a sua amplitude gastronómica – e ao serem usadas e abusadas em menus “Fast Foods” retiram-lhes todo o tempero e toda a sua essência.
Assim, se é líder e tem o poder de influenciar e de transformar alguém, não use a palavra acreditar de forma banal, tempere-a com amor e com uma dose substantiva de paixão e dessa forma, com certeza, conseguirá efectivamente “alimentar” a confiança das suas equipas e aumentar a esperança num futuro melhor!

Nuno Gonçalves – Partner Learnview 

Nós vemos o que somos

As coisas mais importantes são normalmente as mais simples; As verdades mais certas são geralmente as mais evidentes; Aquilo que nos faz feliz são normalmente as coisas mais comuns;

No entanto, quando abordamos os problemas, complicamos; quando procuramos a verdade, construímos um mundo de aparências e quando procuramos a felicidade vamos à procura da novidade.

Por vezes, quando olhamos para trás, só ligando os pontos, é que compreendemos que a mais elementar resposta estava à superfície e não era assim tão complexa, apenas naquele momento estava “indisponível para consulta” no nosso mapa interpretativo.

A vida é assim, um jogo de ilusões e de aparências, que a todo o instante alteram a nossa percepção da realidade.

Cada um, na sua ilusão, construiu um mapa da realidade com o qual interage e através do qual constrói a sua narrativa.

Cada um de nós, protagonista da sua narrativa, se consciente do seu papel de narrador participante, deve ser capaz de compreender a limitação das suas histórias e ter a capacidade de enriquecê-las com outros enredos que a tornarão mais rica e colorida.  

Se, efectivamente formos capazes, nas nossas organizações, através da comunicação interpessoal, de construir mapas interligados, com fronteiras pessoais é certo, mas abertos às diferentes narrativas do outro, podemos construir uma organização diversa, que aproveita as idiossincrasias e os talentos individuais e os conjuga numa tapeçaria comum com a qual poderemos construir uma grande equipa.


Nuno Gonçalves – Partner Learnview