Pode falhar por:
a) Expectativas irrealistas
Comentários:
1) É necessário compreender como se dá o processo de
aprendizagem num adulto – não é expectável esperar mudanças comportamentais em
três dias de formação;
2) Num diagnóstico é necessário desconstruir as “blink
words” – palavras que são demasiado genéricas que podem ter amplos
significados e, que podem ter diferentes interpretações;
3) É necessário construir diagnósticos mais sustentados e
profundos que traduzam e esclareçam de forma mais evidente e clara o que é
possível fazer face àquilo que é necessário fazer;
4) Por vezes, sabemos que este momento inicial é repleto
de “wishful thinkings”, tanto do lado da organização, como do lado da
consultora. Por isso é preciso imprimir uma dose sustentável de realismo optimista.
b) Falta de compreensão estratégica do
processo desenvolvimento de competências
Comentários:
1) Numa lógica de criação de valor, numa gestão
estratégica de recursos humanos, as competências a desenvolver devem estar
alinhadas com a estratégia da organização, de forma a poderem proporcionar à
organização as vantagens competitivas necessárias;
2) Muitas vezes, a escolha das competências a formar é
realizada ad-hoc e sem o discernimento estratégico necessário para tornar a GRH
um actor decisivo no conselho de administração de qualquer organização.
3) É essencial mapear as competências actuais da
organização e compreender o gap existente entre aquilo que é necessário e
aquilo que existe
4) Mormente, este processo é feito de forma bastante
académica, bem sustentado do ponto de vista formal – graficamente e
conceptualmente bem feito – mas vazio, muitas vezes, porque apenas retira uma
imagem superficial e é retratado com diversos jargões que dizem tudo mas não
dizem nada.
c) Falta de integração do processo
formativo na organização dos processos e métodos de trabalho
Comentários:
1) De
acordo com os teóricos das “Learning Organizations”, nomeadamente Peter Senge,
a aprendizagem dá-se no local de trabalho e não numa sala de formação;
2) Um
dos saberes esquecidos na aprendizagem de uma competência é o “Poder-Fazer” –
significa isso que a integração de novas práticas, atitudes e comportamentos
tem que ser acompanhada com a inclusão das mesmas em rotinas de trabalho;
3) Dessa
forma, o conteúdo prático das formações deve ser antecipadamente testado e
avalizado pela GRH e respectivos departamentos como práticas aceites pela
organização;
4) Dessa
forma, a “antes da formação” deve ser alvo de maior atenção – em tempo e em
profundidade, se queremos de fato promover melhorias significativas nas
competências a desenvolver.
d)
Grupos heterogéneos em termos das necessidades específicas de desenvolvimento
Comentários:
1) É comum a integração na formação de grupos
perfeitamente heterogéneos em termos de conhecimentos, competências, aptidões,
motivações;
2) Esta
heterogeneidade permite por um lado que os menos experientes aprendam com os
mais experientes;
3) Mas não permite uma formação mais direccionada,
tornando-a mais generalista e menos profunda e menos específica;
4) O
nível de desafios colocados a cada formando não é ajustável ao nível de
conhecimentos e capacidades actuais
e) Excessivo apego aos aspectos
burocráticos
Comentários:
1) É sabido
que em Portugal gostamos de papéis, burocracias, que nos fazem ser eficientes,
mas nem sempre eficazes;
2) É óbvio que existem aspectos processos importantes –
toda a formação deverá ter um Dossier técnico pedagógico, no entanto uma formação
tem que motivar e inspirar o formando no ponto de vista emocional, não tem que
o “encher” de burocracias racionais e lógicas mas que tornam a formação pouco
cativante
3) A
GRH, tem uma componente processual grande, deverá também estar mais concentrada
em ser eficaz, em realizar o “delivering” da formação, e o seu papel nesse
desiderato é essencial, diria mais, determinante.
f) Falta de responsabilização dos
participantes
Comentários:
1) É comum
existirem formandos que ou não estão interessados ou motivados na formação que
estão a ter parte integrante;
2) É comum existirem formandos que se sentem
pressionados, obrigados a participar na formação
3) É comum
existirem formandos que não sentem responsabilidade (Accountability) para
incrementarem o seu desempenho com as novas práticas, conhecimentos que
adquiram;
4) É
legitimo que a GRH filtre estas situações antecipadamente para evitar que
formandos:
a) Desmotivados; b) desinteressados; c) Não responsáveis
estejam presentes na formação continuando a ter estes comportamentos
5) É legítimo que a GRH encontre formas de
responsabilizar o formando pelo desempenho durante a formação e após a formação
através de mecanismos de feedback e/ ou estabelecer contratos formais de
formação, em que ficará estabelecido o atingir de determinados resultados
tangíveis e intangíveis.
g) Objectivos e programas demasiado
ambiciosos para tão pouco tempo
Comentários:
1) Se o que se pretende com a formação é que ela seja um
veículo de mudança e de desenvolvimento das “core competências ou transversais”
da organização – é incompreensível que se contrate uma formação em que se
pretende que em três dias se desenvolvam tantos objectivos pedagógicos, sabendo
que, assim dizem os especialistas no desenvolvimento de competências,
deveríamos desenvolver apenas um novo comportamento por ano;
2) As formações deveriam assim assentar em poucos
objectivos, mas trabalhados com uma maior profundidade;
3) Como foi dito anteriormente, essa nova prática deveria
depois ser incorporada nas rotinas de trabalho de forma a ser consolidada;
4) Claramente essencial durante a execução desses novos
comportamentos é a existência de feedback, que pode surgir tanto da chefia,
como de um “buddie” escolhido especialmente para ajudar o formando a
desenvolver a competência;
5) Sem um feedback preciso, especifico, detalhado, a
aprendizagem é descontinuada – daí ser essencial existir feedback durante o processo
de aprendizagem e/ou reaprendizagem.
h) Incapacidade para ultrapassar a
imunidade à mudança comum ao ser humano
1) Já é
um lugar-comum quando se fala em aprendizagem, falar em zonas de
desconforto;
2) A Zona de desconforto existe porque temos mecanismos
biológicos fortíssimos que agem como um sistema de imunidade (que nos têm sido
úteis há milhares de anos) à mudança;
3) Quando
realizamos práticas desconhecidas accionamos mecanismos de ansiedade e mecanismos
cognitivos que frustram qualquer tentativa de mudança;
4) É
essencial criar uma cultura de aprendizagem, e “incubadoras” de novas práticas
para os formandos poderem errar no processo de aprendizagem sem sentirem que o
seu emprego está em causa
i) Métodos ineficazes para gerar
dissonância cognitiva
Comentários:
1) Sendo a atitude um pré-disposição para um
comportamento;
2) Sendo as atitudes formadas por crenças, experiências,
expectativas e educação impregnadas muitas vezes como a 2ª pele do formando;
3) Sendo que uma formação se baseia muitas vezes numa
mudança de atitude;
4) É necessário perceber como se dá a mudança de atitude
– ela dá-se provocando a dissonância cognitiva – isto é, através de exemplos,
histórias, estudos científicos, etc., apresentados de forma persuasiva, os
quais permitirão fazer o formando reflectir sobre as consequências e benefícios
de ter uma nova atitude – ao mudar a atitude ele terá que mudar o comportamento
para que o mesmo se ajuste/seja consonante com a nova atitude.
j) Modelos mentais pouco flexíveis e
limitados
Comentários:
1) Entenda-se como modelo mental o sistema de crenças, de
pensamento, de percepção e de interpretação que cada formando tem sobre a
realidade;
2) Mais amplo que o conceito de atitude, os modelos
mentais são como uns “óculos” que filtram a realidade de acordo com os
pressupostos individuais de cada um;
3) Modelos mentais limitados, pouco flexíveis, fechados
em dogmas e em mitos sobre a aprendizagem, como por exemplo, “ele nasceu com
aquele dom”, limitam em muito o alcance e profundidade de uma formação;
4) Se uma organização pretende efectivamente tornar-se
numa organização onde as pessoas desenvolvem as suas competências através de
processos formativos formais ou informais, deverá criar uma cultura onde existem
modelos mentais abertos e flexíveis;
5) Para o efeito a própria organização poderá criar
formações específicas para “flexibilizar” os modelos mentais” das suas equipas
de forma a ampliar e dotá-las de maior espaço mental para a aprendizagem e
desenvolvimento de competências.
Nuno Gonçalves - Partner LearnView