terça-feira, 30 de junho de 2015

Espada de Dâmocles


Reza o mito de que Dâmocles era amigo do Rei Dionísio de Siracusa, na Sicília, e gabava muito a riqueza e o poder do rei e então o rei decidiu-lhe pregar uma partida e convidou-o a trocar de lugar consigo durante um dia e a certa altura, a meio de um faustoso repasto, o rei solicitou que Dâmocles desviasse o seu olhar para cima, e foi aí que Dâmocles se apercebeu que sobre a sua cabeça estava uma espada presa por um fio de cabelo e então o Rei disse-lhe que, apesar de ele considerar que o poder que ele detinha era enorme, a qualquer momento a espada podia cair-lhe sobre os seus olhos.
Este mito moral é-nos contado para nos alertar que por muito que nos sintamos uns privilegiados pelo poder que temos, em qualquer momento podemos perdê-lo ou algo ou alguém pode querer retirá-lo.
 É verdade que este mito é apócrifo, como todos os mitos, mas alerta-nos para o fato da liderança exigir um certo despojamento pelo próprio poder, porque esse é ténue e passageiro, e é algo que vem com a posição e não um estatuto que fica impregnado como uma segunda pele.
Quanto menos um líder se importar com a suposta espada que tem sobre a sua cabeça, menos probabilidade ela terá de cair, porque não se agarrará ao poder, porque fará uma liderança participada, porque será um servo e não um amo.
Mais do que se importar, um líder deverá liderar com a absoluta ignorância sobre a eventual espada que tem sobre si, mas essa ignorância não advém do desconhecimento naïf, mas sim de uma absoluta ignorância desinteressada.  
Quanto mais ele temer a espada, mais quererá controlar quem tem menos poder, agradar a quem tem mais poder, de forma a manter a espada intacta sobre a sua cabeça.
Daqui a importância do crescimento e desenvolvimento pessoal que o líder deverá realizar de forma constante, de forma a não confundir poder com ego, força com autoritarismo, caráter com arrogância.
Um líder que se conhece não pretende que o suposto poder compense as suas fraquezas interiores, porque o poder é ilusório e um pobre substituto de uma verdadeira autoestima.
A espada de Dâmocles se cair sobre o verdadeiro líder, ela nada lhe fará, porque para o verdadeiro líder ela não existe, é apenas ilusória, pois o poder que exerce é transitório e intangível e é algo que se exerce e não algo que se detém; não é um poder exterior, que advém do estatuto, mas sim um poder que advém do interior, do seu caráter e das suas virtudes.


Nuno Gonçalves / Partner Learnview 

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