quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A Era da Percepção

Revisitando a “Era do Vazio” de Gilles Lipovetsky, é curioso olhar o mundo através deste livro.
Segundo o autor, esta é uma nova forma da sociedade se organizar na qual as instituições se guiam mais pelos desejos, livre dos regulamentos e das regras embora esta nova ordem seja, em si, uma nova regra estabelecida. No lugar do indivíduo submetido às regras sociais, há um estímulo desenfreado ao “direito de ser ele mesmo” em detrimento das relações com o outro e com a sociedade. É o chamado direito de ser si mesmo, de aproveitar a vida ao máximo levando a uma hipervalorização da personalização do indivíduo numa outra forma de individualismo. Individualismo total, narcisismo colectivo, indiferença aos conteúdos, comunicação sem finalidade e sem público, o desejo de se expressar, de se manifestar a respeito de nada. Comunicar por comunicar, expressar-se sem qualquer outra finalidade a não ser expressar-se e ser ouvido por um micro público. Esta é a lógica do vazio. O isolamento do ser social e a valorização do ser individual. A cultura pós-moderna é voltada para o aumento do individualismo, diversificando as opções de escolha, cada vez mais opções de escolha sobre tudo numa sociedade de consumo levando à perda de uma visão crítica sobre os objectos e valores que estão à nossa volta. É uma cultura de personalização.

É uma visão crua, amarga até, mas que facilmente se pode verificar em muitos grupos sociais (e também no seio de muitas empresas) se nos concentrarmos numa observação atenta e descomprometida. É um indicador da direcção que toma a Humanidade nestes novos tempos.
Na nossa opinião, torna-se importante investir em modelos de auto conhecimento e auto liderança do nosso colaborador, bem como dinâmicas de dinamização social, através de um investimento no individuo, dentro das organizações.
Num próximo artigo desenvolveremos esta questão ao nível individual, na nossa vida pessoal, neste momento concentramos o foco no grupo de pessoas que forma a empresa, uma organização com um fim claro.
O facto de haver (por ex:) dois dias diferentes – de desenvolvimento pessoal – num trimestre, com temáticas novas que se compõem como conhecimento com um enorme potencial de criar/ melhorar/ reforçar competências, constitui uma séria interrupção na dinâmica (quase inevitável) de cristalizar na repetição. É muito fácil sentir que se faz sempre a mesma coisa, com o tempo e tarefas repetidas este sentimento acentua-se, generaliza-se, desmotiva e desfoca.
Este tipo de acção acaba por interromper este tipo de percepção perniciosa da rotina e criar um novo invólucro de motivação, um renascimento de sentimentos positivos, um novo fôlego de satisfação e de foco positivo nas tarefas e na própria empresa. Todos os profissionais, mas especialmente aqueles que, de alguma forma, lidam com tarefas rotineiras, valorizam incrivelmente um momento que foi pensado para eles, um intervalo criado para o enriquecer intelectualmente, melhorar a sua percepção do mundo, melhorar uma competência específica ou um conjunto de competências, aprender a lidar melhor com os outros ou consigo próprio, reforçar capacidades em matérias onde sente dificuldades, etc, etc.
Criar estes momentos de 3 em 3 meses é controlar a assustadora ideia que vai entrar num ciclo de repetição que vai durar um ano inteiro – apenas interrompido pelas salvadoras férias - é investir na satisfação dos nossos “clientes internos”, é conduzir pessoas num caminho de mais entusiasmo, mais interesse, mais disponibilidade para mudar ou melhorar, com mais oxigénio para continuar.
Será que uma coisa simples como a que descrevemos em cima, tem assim tanto impacto? Aquilo que sentimos e vivemos começa com a percepção das coisas; a nossa percepção das coisas cria as nossas opiniões e orienta os nossos pensamentos que influenciam os nossos comportamentos e estes definem a nossa experiência de vida.
Vale sempre a pena tentar influenciar positivamente a percepção dos nossos profissionais, as consequências disso podem ser maravilhosas.

Paulo Dantas da Costa


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