Revisitando a “Era do Vazio” de Gilles Lipovetsky, é curioso olhar o mundo
através deste livro.
Segundo o autor, esta é uma nova forma da sociedade se organizar na qual as
instituições se guiam mais pelos desejos, livre dos regulamentos e das regras
embora esta nova ordem seja, em si, uma nova regra estabelecida. No lugar do
indivíduo submetido às regras sociais, há um estímulo desenfreado ao “direito
de ser ele mesmo” em detrimento das relações com o outro e com a sociedade. É o
chamado direito de ser si mesmo, de aproveitar a vida ao máximo levando a uma
hipervalorização da personalização do indivíduo numa outra forma de
individualismo. Individualismo total, narcisismo colectivo, indiferença aos
conteúdos, comunicação sem finalidade e sem público, o desejo de se expressar,
de se manifestar a respeito de nada. Comunicar por comunicar, expressar-se sem
qualquer outra finalidade a não ser expressar-se e ser ouvido por um micro
público. Esta é a lógica do vazio. O isolamento do ser social e a valorização
do ser individual. A cultura pós-moderna é voltada para o aumento do
individualismo, diversificando as opções de escolha, cada vez mais opções de
escolha sobre tudo numa sociedade de consumo levando à perda de uma visão
crítica sobre os objectos e valores que estão à nossa volta. É uma cultura de
personalização.
É uma visão crua, amarga até, mas que facilmente se pode verificar em
muitos grupos sociais (e também no seio de muitas empresas) se nos
concentrarmos numa observação atenta e descomprometida. É um indicador da
direcção que toma a Humanidade nestes novos tempos.
Na nossa opinião, torna-se importante investir em modelos de auto conhecimento
e auto liderança do nosso colaborador, bem como dinâmicas de dinamização
social, através de um investimento no individuo, dentro das organizações.
Num próximo
artigo desenvolveremos esta questão ao nível individual, na nossa vida pessoal,
neste momento concentramos o foco no grupo de pessoas que forma a empresa, uma
organização com um fim claro.
O facto de
haver (por ex:) dois dias diferentes – de desenvolvimento pessoal – num
trimestre, com temáticas novas que se compõem como conhecimento com um enorme
potencial de criar/ melhorar/ reforçar competências, constitui uma séria
interrupção na dinâmica (quase inevitável) de cristalizar na repetição. É muito
fácil sentir que se faz sempre a mesma coisa, com o tempo e tarefas repetidas
este sentimento acentua-se, generaliza-se, desmotiva e desfoca.
Este tipo de
acção acaba por interromper este tipo de percepção perniciosa da rotina e criar
um novo invólucro de motivação, um renascimento de sentimentos positivos, um
novo fôlego de satisfação e de foco positivo nas tarefas e na própria empresa.
Todos os profissionais, mas especialmente aqueles que, de alguma forma, lidam
com tarefas rotineiras, valorizam incrivelmente um momento que foi pensado para
eles, um intervalo criado para o enriquecer intelectualmente, melhorar a sua
percepção do mundo, melhorar uma competência específica ou um conjunto de
competências, aprender a lidar melhor com os outros ou consigo próprio,
reforçar capacidades em matérias onde sente dificuldades, etc, etc.
Criar estes
momentos de 3 em 3 meses é controlar a assustadora ideia que vai entrar num
ciclo de repetição que vai durar um ano inteiro – apenas interrompido pelas
salvadoras férias - é investir na satisfação dos nossos “clientes internos”, é
conduzir pessoas num caminho de mais entusiasmo, mais interesse, mais
disponibilidade para mudar ou melhorar, com mais oxigénio para continuar.
Será que uma
coisa simples como a que descrevemos em cima, tem assim tanto impacto? Aquilo
que sentimos e vivemos começa com a percepção das coisas; a nossa percepção das
coisas cria as nossas opiniões e orienta os nossos pensamentos que influenciam
os nossos comportamentos e estes definem a nossa experiência de vida.
Vale sempre
a pena tentar influenciar positivamente a percepção dos nossos profissionais,
as consequências disso podem ser maravilhosas.
Paulo Dantas
da Costa
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